Sabe aquela travessia que você sonha em fazer? Há muito tempo sonhava em conhecer o Parque Nacional dos Lençóis Maranhenses.
Me organizei para fazer a travessia durante o inverno, que é a alta temporada lá, quando as lagoas ainda estão cheias pós chuvas de verão. Marquei a viagem para o final do mês de julho, época de lua cheia, pois queria ter dias e noites incríveis.
Eu estava determinado a fazer a travessia sozinho, dificilmente algum dos meus amigos conseguiria férias para esse período, mas como a vida é uma caixinha de surpresas, eu acabei conseguindo não só uma, mas duas companheiras de viagem! Duas amigas, Mônica e Laura, iriam tirar férias nessa mesma época, então decidiram ser minhas parceiras nessa travessia. Sem muitas perguntas, compraram as passagens e entraram de cabeça nessa aventura.
Aeroporto de Guarulhos – SP x Aeroporto de São Luís – MA
Chegou o grande dia, sorriso no rosto, mochilas e equipamentos prontos. Nos encontramos no aeroporto, a Laura iria em um voo mais cedo de outra cia e a Monica e eu iríamos juntos em outro voo. Notamos alguns jornalistas no local de embarque perguntando sobre atrasos nos voos, mas não demos muita atenção e embarcamos. Já dentro do avião, fomos informados que o radar do APP SP estava inoperante e que nenhum avião poderia decolar ou aterrissar até que ele voltasse. Aí começa o grande perrengue da viagem…
Nosso voo decolaria as 11h10min, faria uma conexão no RJ as 13h00min e chagaria em São Luís as 15h10min. E o que aconteceu? Só decolamos as 14h00min! Pensei: ufa agora vai. Triste engano. Quando chegamos no RJ, o voo de conexão já tinha partido e a cia GOL, já sabendo do ocorrido, não designou nenhum funcionário para nos receber ou informar sobre o que fazer! Várias pessoas perdidas no aeroporto, tumulto nos guichês de atendimento e muita gente brava. No fim, fomos encaixados em um voo com destino a Belém que sairia as 20h00min e de lá faríamos uma conexão as 03h00min para finalmente chegar as 05h00min em São Luís. Da para acreditar???
Aeroporto de São luís x Barreirinhas x Canto dos Atins
Depois de passar por 4 estados e 3 aviões, chegamos em São Luís as 5h10min. Ainda precisávamos comprar as passagens de ônibus para Barreirinhas e não achamos vagas para os três no mesmo horário de partida. A Laura, que já estava por lá, seguiu no ônibus das 6h e nós fomos no das 8h.
Mesmo com todos os contratempos, a gente não se abateu e continuamos firmes e fortes, sem desanimar!
Chegamos em Barreirinhas por volta das 14h30min e encontramos a Laura. Fomos procurar um barco para fazer o passeio do Rio Preguiças, que também nos deixaria na Praia do Caburé, mas por causa do horário, não dava mais tempo. Conversamos com um barqueiro que nos aconselhou a ficar na cidade e fazer o passeio no dia seguinte.
Era a coisa mais sensata a se fazer, mas apareceu um cara dizendo que teria um barco, que já estava saindo para Atins e que na cidade estaria tudo cheio e não encontraríamos hospedagem. Explicamos a ele que gostaríamos de fazer o passeio do rio, e ele respondeu que para a gente fazer o passeio, era melhor ir direto para Atins, por que dela sairia barcos com frequência e que da praia do Caburé dificilmente teria algum barco saindo. Já cansados dos transtornos da viagem, topamos pegar esse barco direto, que depois se mostrou um grande erro. Ele cobrou R$70,00 para nos deixar em Atins, sem fazer o passeio, que teria custado o mesmo valor. Conversando com o barqueiro percebi a burrice que tínhamos cometido. O cara era um atravessador. O barco custava somente R$50,00 e ele ganhou mais de R$20,00 de cada um de nós. Realmente deveríamos ter esperado até o dia seguinte.
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Chegamos em Atins e fomos ver algum lugar para pernoitar, pois já eram mais de 16h00. Ainda tínhamos que achar algum lugar para fazer o tal passeio do rio Preguiças, porque, apesar de tudo, ainda não havíamos desistido do bendito passeio.
A vila de Atins é o local mais movimentado, com várias pousadas, restaurantes e a noite mais badalada daquela região, com muito reggae ao vivo. As agências de Atins só negociam barco privado, que custam R$400,00, sério 400 reais! Quer saber desistimos de conhecer esse rio? Deu até preguiça! Cansei de ser enganado! Conversamos e decidimos seguir direto para o redario do Sr Antônio, no Canto dos Atins, local de onde seria o início da nossa travessia. Substituímos nossas botas pelas papetes, abastecemos nossos reservatórios, sacamos os bastões de caminhada e quando liguei o GPS, ele desligou, troquei as pilhas e adivinha? Ele desligava… Sim, o GPS deu pau!
Ok, sem problemas. Apenas o nosso principal meio de navegação pelo deserto dos Lençóis Maranhenses nos deixou na mão. E eu pensando que a gente já tinha passado pelas partes ruins da viagem. Essa do GPS seria só mais um percalço e realmente foi. Eu estava prevenido. Se caso ocorresse algum problema com o GPS Garmin, eu teria o App do Wickloc nos nossos celulares com o trecklog da travessia. Tinha também um carregador solar e o power bank de 20.000mah, que daria umas 8 cargas.
Confiantes e determinados, seguimos para o Canto dos Atins, mesmo com os alertas dos locais de que a gente não conseguiria fazer a travessia sem um guia. Já navegando pelo app do celular, que funcionou perfeitamente, caminhamos por aproximadamente 1h40min até chegar no restaurante e redario do Sr Antônio, onde fomos muito bem recebidos. Quando chegamos eles fizeram as seguintes perguntas:
Quem é o guia de vocês?
Estão sem guia?
Vocês são malucos?
Eu achei que era bem comum fazer a travessia sem guia, não consegui entender o espanto, e olha que eles nem sabiam que nosso GPS estava com problemas hehehe…
O redario é bem legal. O pernoite custa R$35,00 por pessoa eles fornecem a rede, 1 lençol e o café da manhã. O restaurante do Sr Antônio é famoso por servir os melhores camarões da região. Tomamos banho e fomos jantar, aproveitando para experimentar essa delicia! A porção de camarões é bem servida, dá para 3 pessoas e custa R$90,00.
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Durante o jantar decidimos ficar mais de um dia por lá. Como o início da nossa viagem foi um caos, seria melhor descansar um pouco antes da travessia, já que no primeiro dia teríamos que caminhar aproximadamente 26 km. Como não havíamos ficado na Praia de Caburé, tínhamos dias livres para isso. Conversamos bastante com o sobrinho do Sr Antônio, que nos deu algumas dicas dos locais a serem visitados. Fomos dormir, finalmente!
Visitando as lagoas do Canto dos Atins
Acordamos com as energias renovadas, tomamos nosso café da manhã e fomos conhecer as lagoas indicadas por eles. Confesso que estava bem ansioso para pisar nas dunas e cair na água! Próximo dali, tem duas lagoas que são as mais visitadas: Lagoa das 7 mulheres e a Lagoa da Capivara. O primeiro contato com as dunas e com as lagoas foi incrível! É uma beleza diferente e para completar, o dia estava lindo! Pulamos na água, rolamos nas dunas e tiramos centenas de fotos. Enfim estávamos curtindo as férias.
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Retornamos para o almoço, que dessa vez foi um delicioso filé de peixe, no valor de R$70,00 e serve 3 pessoas. Após o almoço, foi só rede, conversa e cerveja. No fim da tarde, começamos a organizar nossas coisas, pois acordaríamos as 3h00min da madruga para dar início a travessia dos Lençóis Maranhenses. Seria o dia mais difícil da travessia, pois teríamos que percorrer uma distância de aproximadamente 26 km até o Oásis de Baixa Grande.
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A TRAVESSIA
23/07/2018 – 1ª Dia – Canto dos Atins x Baixa Grande
Acordamos na madrugada, tomamos o café da manhã e saímos sem muita demora em direção à praia. Caminhamos até a “Barraca”, que é o ponto de referência para adentrar as dunas. Já que não tínhamos um guia, fomos aconselhados a seguir pela praia até o Rio Negro e seguir por ele até o oásis da Queimada dos Britos, mas é claro que preferimos seguir pelas dunas. Eu estava confiante no que estava fazendo e não teria muita graça cortar uma parte dos Lençóis seguindo pela praia.
Adentramos as dunas e paramos para apreciar o nascer do sol. Foi um momento memorável! Uma mistura de felicidade e ansiedade tomava conta nesse primeiro momento, era tudo muito bonito. O sol já estava bem quente, mas, como os ventos são muito fortes também, não era tão desgastante.
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Depois de aproximadamente uns 5 km, nos deparamos com a imensa Lagoa Verde. Ela é realmente enorme e é, sem dúvida, um dos pontos obrigatórios dessa travessia. Caímos na água, ficando até mais tempo do que deveríamos, e depois pegamos as mochilas para seguir caminho. A cada lagoa que passávamos, dava vontade de entrar.
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Nos Lençóis Maranhenses não existe uma trilha ou um caminho certo a ser seguido. As dunas se movimentam e as lagoas enchem e secam dependendo da época do ano. Tudo o que tínhamos era um rumo a ser seguido e o tracklog que eu havia baixado era de 2010, feito no verão, época em que as lagoas ainda estão secas, então não daria para seguir com perfeição do GPS. Por várias vezes, cruzamos muitas lagoas secas e, em alguns momentos, algumas que a gente afundava na lama até o joelho, por isso decidimos contornar as lagoas secas para que não ocorresse novamente. Confesso que achei meio estranho a gente encontrar tantas lagoas secas, esperava que elas estivessem todas cheias.
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Fizemos mais uma parada para almoço em uma das lagoas. Nesse momento o sol já castigava, por isso a melhor vestimenta para esse trekking é camiseta de manga longa de dry fit e calça. Eu usei bermuda nos dois primeiros dias e minhas pernas torraram, não recomendo. Outro ponto é que o vento forte assopra a areia e quando bate na pele queimada arde muito!
Em relação a calçado, eu gostei bastante da papete, mas recomendo usar com uma meia grossa para proteger a pele. Pode parecer incômodo no começo, mas foi a melhor opção na minha opinião. Como estava usando o App do celular, aproveitava as paradas para recarregá-lo com o carregador solar. Sol ali é o que no faltava!
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Alimentados e descansados, continuamos nossa peregrinação. A previsão de chegada ao abrigo da Baixa Grande era as 18h00min, mas eu já previa que chegaríamos por volta das 19h00min. As meninas, por não terem o costume de andar descalças por tanto tempo, se queixavam de dores nos pés, então diminuímos ainda mais o nosso ritmo. Não tínhamos tanta preocupação com horário, por que já era o nosso objetivo fazer algumas caminhadas noturnas, e foi por isso que programei a travessia para a semana da lua cheia. O sol já estava se pondo e ainda faltavam 6 km para o nosso destino. Logo a noite caiu e lua que saía iluminou o nosso caminho, a areia branca refletindo com perfeição o brilho da lua. Que momento mágico!
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De cima de uma das dunas já era possível avistar o oásis da Baixa Grande, então fizemos a última parada e ficamos admirando o céu estrelado. Foi nesse momento que a Monica disse que tinha “alguém com um cachorro vindo em nossa direção”. Na hora eu pensei: quem mais seria doido de andar por aqui a noite? Confesso que bateu uma preocupação momentânea e aposto que a pessoa pensou a mesma coisa rsrs…
No final era um menino que se chamava Ezequiel, morador da região. Ele disse que viu nossas lanternas e imaginou que poderíamos estar perdidos. Conversamos um pouco e perguntei a ele se aquelas lagoas que estavam vazias chegam a ficar cheia em alguma época do ano. Ele me explicou que naquela região as lagoas secavam mais rápido, por ficar em um ponto mais alto, e que dali para frente nós encontraríamos as lagoas mais cheias. Após a papo seguimos por mais 30 min até o abrigo da Dona Dete, por volta das 20h00min.
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O lugar é bem simples. O redario fica em uma cabana feita com palha de coqueiro, todo fechado e bem abrigado do vento forte. O pernoite custa R$35,00 por pessoa e eles fornecem a rede, 1 lençol e o café da manhã.
A princípio ela e seu esposo nos receberam muito bem, mas nossa passagem não foi lá das melhores, infelizmente.
Como chegamos um pouco tarde, a dona Dete não havia preparado nada, mas disse que se a gente quisesse jantar ela teria para nos servir arroz, feijão, macarrão e ovo por R$25,00 cada. Ela disse também que serviria como complemento uma torta que ela já havia feito para os franceses.
Lá ouvimos as mesmas perguntas:
Quem é o guia de vocês?
Estão sem guia?
Vocês são malucos…
O abrigo estava bem cheio. Havia pelo menos 2 grupos lá e todos eles eram franceses. Um dos casais foi bem sociável e conversou bastante com a gente. Ficaram bem curiosos sobre a nossa travessia também. Acho que foi isso que despertou a ira de um guia do outro grupo. Tomamos banho e fomos jantar. Ao chegar no refeitório, o tal guia, que era um francês que já morava a muitos anos por lá, foi bem rude com a gente, dizendo que nós não entraríamos nos outros abrigos sem guia e que não era permitido fazer sem guia. Alegou que os Lençóis eram um ecossistema muito frágil, como se a gente estivesse depredando tudo por lá. Eu já havia lido as normas do Parque Nacional dos Lençóis Maranhenses e lá dizia que não era obrigatória a contratação de um guia, então simplesmente ignorei ele que continuou a retrucar.
A Dona Dete não tinha servido os ovos como combinado, somente 4 pedaços de torta que eu não sei nem do que era, mas estava com gosto daquela receita francesa “restodeonte” sabe? Eu não sou de reclamar de comida, mas a torta estava bem ruim e o macarrão parecia estar na geladeira há duas semanas! Não estou exagerando. A Monica pediu o ovo que afinal ela tinha combinado de servir e ela não gostou muito não, trouxe bem contrariada. Após o “delicioso” jantar (sqn) fomos deitar. Nossos corpos estavam bem cansados então combinamos de acordar um pouco mais tarde no dia seguinte, já que a caminhada seria mais curta, apenas 10 km até o oásis da Queimada dos Britos.
24/07/2018 – 2ª Dia – Baixa Grande x Queimada dos Britos
Acordamos umas 6h00min e fomos tomar o café da manhã. De cara o guia chato foi falando que a mesa maior era dele, demos bom dia e sentamos em qualquer lugar rs… Durante toda a travessia é servido no café da manhã biju (tapioca) com manteiga, ovos mexido, café e, em alguns lugares, frutas. Caso você não coma essas coisas, recomendo levar o seu café.
Fizemos as contas do que tínhamos que pagar para Dona Dete e a Monica foi lá fazer o acerto. Para a nossa surpresa, ela cobrou a parte R$35,00 dos 4 pedaços da torta. Quando questionada sobre o que eu ela havia combinado, ela ainda disse que não faria a torta de graça. Fica a dica: se você passar por esse abrigo, fique atento no que ela cobra e pague na hora para evitar surpresas depois!
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Deixamos o grupo dos franceses saírem na frente, e fomos um tempo depois. Não queríamos esbarrar de novo com o guia deles. Bastou voltar para o deserto, que já esquecemos todos os aborrecimentos daquele lugar. O entorno da Baixa Grande tem lagoas lindas! Com certeza esse foi o dia mais bonito, com lagoas impressionantes e ótimas para dar um mergulho! Também sofremos um ataque aéreo de uma espécie de quero-quero. Eles fazem os ninhos nas lagoas mais secas e quando a gente se aproxima, eles pensam que somos predadores.
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Nesse ponto da travessia, estávamos mais familiarizados com as lagoas e com as dunas, pegando o jeito direitinho de andar sobre elas: andávamos sempre pela crista, onde a areia é mais dura, então a nossa caminhada era mais rápida e cruzamos quase todas as lagoas sem medo.
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A fome bateu mais cedo e fizemos uma paradinha bem rápida pra almoçar, como sempre à beira de uma lagoa linda! Um pouco à frente, nos deparamos com um mirante onde em volta só tinha lagoas gigantes e bem azuis, entramos em quase todas. Seguimos o nosso caminho, por que estava perto da hora do sol se pôr, e como ainda seria preciso cruzar por dentro de algumas lagoas, não seria bom esperar escurecer.
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Quando era preciso cruzar alguma lagoa, eu deixava a mochila, cruzava ela toda para ver se dava pé, depois voltava, pegava a mochila e atravessava de novo junto com as meninas. Todas as nossas coisas eram guardadas dentro de sacos estanques, porque, se a caso caísse na água, não teria problemas. Então fica a dica.
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O pôr sol deu um show à parte e fechou com chave de ouro aquele dia lindo! Chegamos a Queimada dos Britos, onde faríamos o pernoite no redario da dona Maria. Logo que você chega, tem outro redario, o da dona Joana. Até íamos ficar lá, mas, assim que entramos, adivinha com quem demos de cara? Com o dito cujo do francês, para a nossa alegria!
E ele bem debochado disse “chegaram cedo para a janta, saíram primeiro que nós e chegaram só agora???”. Eu bem calmo respondi que não tinha pressa de chegar e que a ideia era curtir ao máximo o lugar! Ele mais uma vez foi petulante dizendo que nadamos bastante então e que saímos antes deles. Questionei se havia alguma competição e disse que saímos bem depois deles. Em francês, ele comentou com os outros que a gente estava perdido e, para surpresa dele, eu respondi em português: “Não estávamos perdidos e sim aproveitando o lugar”. Depois dessa ele ficou mudo. Graças a Deus tínhamos outra opção de redario e não teríamos que ficar ali com ele. Saímos antes que ele falasse mais asneiras.
O redario da dona Maria fica mais a frente, seguindo a rua. Aliás, só uma parte dela, na época das cheias, as ruas viram rios e você precisa caminhar com água até a cintura. Encontramos uma casa onde perguntamos se ali era a dona Maria. Eles responderam que ainda não, e muito receptivos, nos levaram até a casa dela, onde fomos muito bem recebidos! Nesse dia não jantamos, preferimos preparar ovos mexidos e a tapioca para eliminar o peso das mochilas.
A dona Maria é um amor de pessoa. Conversou bastante com a gente, contou um pouco sobre como era vida deles ali nos oásis dos Lençóis Maranhenses. Deu pra perceber que eles vivem de forma simples, porém feliz! Na Queimada dos Britos, existe um vilarejo onde vivem 13 famílias. Na casa da dona Maria funciona uma escola onde estudam 9 crianças!
O pernoite na dona Marias custa R$35,00 por pessoa, ela oferece a rede, 1 lençol e o café da manhã. O redario, assim como os outros, é bem simples e a energia é gerada através das placas solares.
Tivemos uma breve conversa para decidir se ficaríamos mais um dia ou se seguiríamos om a travessia. Concluímos que, como já tínhamos aproveitado as lagoas em torno, era melhor seguir em frente na manhã seguinte.
25/07/2018 – 3ª Dia – Queimada dos Britos x Betânia
Mais um dia nos Lençóis Maranhenses! Acordamos por volta das 04h30min da manhã e fomos tomar café. Como ainda estava escuro e precisaríamos caminhar pela água, esperamos o dia clarear para sair. Bem perto da Queimada dos Britos, tem outro vilarejo, a Queimada dos Paulos. Britos e Paulos foram duas famílias que povoaram os vilarejos, por isso os nomes.
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Deixamos os povoados e seguimos pelo deserto. Reparei que as lagoas tinham uma coloração bem variada. Algumas eram mais azuis que outras. Uma delas tinha a água tão cristalina que foi impossível não entrar, parecia uma piscina. Demos um mergulho rápido e voltamos a caminhar. Nesse dia, encontramos as maiores e mais fundas lagoas da travessia. Por duas vezes tivemos que contornar. Tentei cruzar e não dava pé.
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Já era fim de tarde quando nos aproximamos do vilarejo de Betânia. O GPS indicava um caminho que contornava a imensa lagoa do Rio Grande e só depois chegava no abrigo, que ficava próximo da saída ao norte. Eu não entendi o porque dar essa volta, então optei em ir pelo Norte que seria o caminho mais rápido.
Preste atenção quando chegar na imensa lagoa. A sua esquerda terão marcas de carro na areia seguindo pela margem da lagoa. Siga por elas até chegar no rio. A dona Maria já havia nos alertados para não tentarmos cruzar o rio, que era só dar um grito que alguém do abrigo atravessaria a gente. Eu passei da entrada. Estava seguindo o ponto de saída para as lagoas que indicava no GPS e caímos na parte de trás da casa. Demos o grito e eles vieram nos pegar. Se a gente tivesse prestado atenção na entrada, teria sido mais fácil.
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O redario/restaurante Cantinho da Felicidade foi outro lugar que nos recebeu de braços abertos. Todos foram bem receptivos e atenciosos com a gente.
Em Betânia já existe energia elétrica e a estrutura é melhor. É um dos pontos turístico dos Lençóis Maranhenses. O redario é muito bom, tudo limpo e organizado. Foi o único lugar que eles trocaram as redes para agente dormir. O pernoite também custa R$35,00 por pessoa e eles fornecem a rede, 1 lençol e o café da manhã.
Ficamos jogando conversa fora e logo fomos dormir.
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26/07/218 – 4ª Dia – Dia de descanso em Betânia
Acordamos mais tarde, tomamos café e ficamos conversando por um bom tempo. Lá eles alugam kayaks, então negociamos um valor e fomos remar pelo Rio Grande. Logo a fome bateu e retornamos para almoçar, as refeições custam entre R$30,00 e R$35,00 reais o prato. Recomendo que provem o guaraná Jesus “o sabor de viver o Maranhão”. É o refrigerante típico do Nordeste brasileiro.
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Pós-almoço, descansamos nas redes, lavamos nossas roupas e eu aproveitei para fazer a marcação da entrada certa no GPS, por isso voltei nas dunas. Também organizamos nossas coisas para partir na madruga, seria o nosso último dia de caminhada na travessia.
Para sair de Betânia, é preciso combinar com eles um horário para que eles te levem de barco até as dunas novamente, então combinamos com o Valdo de sair as 4h00min da manhã. A lua estava linda. Era noite de lua cheia. Ficamos ali apreciando e depois fomos dormir.
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27/07/2018 – 5ª Dia – Betânia x Santo Amaro
Acordamos bem cedo, tomamos o café e o Valdo já estava com o barco pronto para nos levar pelo rio até a saída de Betânia. Nos despedimos e seguimos. A ideia era seguir pelo meio do deserto e passar pelas Lagoas Andorinhas e a da Gaivota, mas não foi possível seguir a indicação do GPS por que as lagoas estavam bem fundas e o contorno era longe. Então seguimos o caminho dos guias que é paralelo a vegetação. Notei que existe um pau fincado no alto de algumas dunas que serve com referência do caminho para Santo Amaro.
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Por volta das 9h00 já era possível avistar a cidade de Santo Amaro. Já batia uma tristeza por que a nossa travessia estava chegando ao fim. Logo na saída dos Lençóis, a Laura precisou usar o “banheiro”, então paramos inocentemente e ela se afastou para fazer o xixi… E lá estava Laurinha em seu momento de alívio quando de repente apareceu um 4×4 de frente para ela, cheio de turistas! Tadinha, só espero que ninguém tenha filmado hehehe…Tinha que acontecer mais alguma coisa, a nossa travessia não poderia terminar sem grandes emoções!
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Seguimos até o centro da cidade. De lá sai vans para São Luís, mas nós preferimos ficar na cidade e fazer algum dos passeios que tem por lá.
Procuramos um lugar para ficar e achamos a Pousada Lagoa Azul. O quarto para 3 pessoas saiu por R$200,00. Eu achei um pouco caro, a pousada era bem simples, mas, como a cidade estava cheia, ficamos nela mesmo.
Como ainda estava cedo, na pousada mesmo contratamos um passeio de 4×4 para conhecer as lagoas Andorinhas e Gaivota, que são pontos turísticos de Santo Amaro, já que não passamos por elas na travessia. O passeio privado custou R$200,00 dividimos em 3 então deu R$67,00 para cada. O passeio valeu a pena. As lagoas são lindas e ainda assistimos o pôr do sol na gigantesca lagoa da caravela.
Para voltar para São Luís reservamos na pousada uma van que nos pegou na porta e nos levou até a cidade. Lá já tinha um carro esperando para nos deixar no nosso hostel, que ficava no bairro do Calhau. Eu achei excelente o serviço prestado por eles! A viajem de van durou umas 4 horas e custou apenas R$50,00.
E assim nos despedimos dos Lençóis Maranhenses. Essa travessia me encantou! Sem dúvida foi uma das melhores que fiz. Desafiadora e linda, me senti orgulhoso por ter conseguido navegar por aquele mar de dunas. Recomendo a todos que façam a travessia e venham vivenciar essa experiência que só nos Lençóis Maranhenses pode oferecer!
Informações gerais
Trekking: Travessia dos Lençóis Maranhenses
Grau de dificuldade: Difícil
Tempo médio: 05 dias
Grau de declínio: Pequeno
Percurso: 95 km aproximadamente
Tracklog usado como referência: www.trekmundi.com
Tracklog do trajeto realizado: Travessia dos Lençóis Maranhenses julho de 2018
Mais informações sobre o Parque Nacional dos Lençóis Maranhenses
NO PERCURSO NÃO TEM BANCO, NÃO TEM ELETRICIDADE E NÃO TEM SINAL DE CELULAR, OU SEJA, NÃO TEM COMO USAR CARTÃO DE CRÉDITO OU DÉBITO. SAQUEM DINHEIRO!!!
Como chegar:
Seguir de avião até o Aeroporto Internacional de São Luís – Marechal Hugo da Cunha Machado.
Solicite serviço de Uber ou taxi até Terminal Rodoviário de São Luís, o trajeto tem proximamente 2,7 km.
Site: www.rodoviariasaoluis.com.br
Terminal Rodoviário de São Luís x Barreirinhas – MA
Ônibus: https://
Barreirinhas – MA x Atins – MA
Pegar o barco (voadeira) no Rio Preguiças e seguir até Atins – R$50,00 por pessoa.
Atins – MA x Canto dos Atins
Caminhe por aproximadamente 1h40 (7,1km) até o Restaurante e Redário do Sr. Antonio.
Roteiro e valores:
Logística São Paulo x Canto dos Atins – MA – Dia 01
São Paulo – SP x São Luís – MA
São Luiz – MA x Barreirinhas – MA
Barreirinhas – MA x Canto dos Atins
Pernoite – Restaurante e Redário do Sr. Antonio – R$35,00
Telefone: (98) 98881-3138
Jantar – Prato de Camarões, serve 3 pessoas – R$90,00
Canto dos Atins – Dia 02
Dia livre – Conhecendo as Lagoas do Canto dos Atins
Jantar – Prato de Camarões, serve 3 pessoas – R$90,00
Almoço – Prato Filé de Peixe, serve 3 pessoas – R$70,00
Pernoite – Restaurante e Redário do Sr. Antonio – R$35,00
Início da Travessia
Canto dos Atins x Oásis Baixa Grande (26 km) – Dia 03
4h00min início da travessia dos Lençóis Maranhenses
Lagoa Verde (Ponto de visita obrigatório)
18h00min Oásis Baixa Grande
Pernoite – Casa da D. Dete – R$30,00
Jantar – R$25,00
Oásis Baixa Grande X Oásis Queimada dos Britos (10 km) – Dia 04 (Opção de dia para descanso)
Curti as lagoas gigantes (Um dos melhores dias)
Seguir para Queimada dos Britos mais tarde. (Sol mais fracos)
Pernoite Casa da Maria ou Dona Joana – R$35,00
Oásis Queimada dos Britos x Betânia (19 km) – Dia 05
Acordar as 4h00min e seguir para Queimada dos Paulos – 2km
Seguir para Betânia – 17 km
Lagoas Gigantes
Cruzar o Rio Grande de barco
Pernoite – Cantinho da Felicidade R$35,00
Telefone: (98) 9 8779-1043
Jantar – R$35,00
Betânia (Dia livre) – Dia 06
Conhecer as lagoas em torno
Passear de Kayak
Almoço – R$5,00
Pernoite em Betânia – Cantinho da Felicidade R$35,00
Jantar – R$35,00
Betânia x Santo Amaro (11 km) – Dia 07
Acordar 4h00min
Cruzar o Rio Grande de barco
Caminhada de 11 km até Santo Amaro
Pernoite – Pousada Lagoa Azul – Quarto 3 pessoas R$200,00
Endereço: Rua das Flores, 38 – Centro, Santo Amaro do Maranhão
Telefone: (98) 3369-1294
Passeio 4 x 4 – Lagoa das Andorinhas – Lagoa da Gaivota
R$200,00
Santo Amaro – MA x São Luís MA – Dia 08
Van até São Luíz – R$ 50,00
DESPESAS:
• Passagem aérea = R$ 680,00
• Ônibus Barreirinhas = R$ 51,00
• Barco Barreirinhas = R$50,00
• 2x Pernoites e Jantar Canto dos Atins = R$ 123,00
• 1x Pernoite + jantar Baixa Grande = R$ 62,00
• 1x Pernoite Queimada dos Brito = R$ 35,00
• 2x Pernoites + 2x refeições Betânia = R$ 140,00
• 1x Pernoite Santo Amaro do Maranhão = R$200,00 dividido por 3 R$ 66,67
• Refeições Santo Amaro = R$ 35,00
• Passeio 4×4 = R$ 200,00 dividido por 3 R$66,67
• Van Santo Amaro x São Luís = R$ 50,00
GASTOS POR PESSOA DURANTE A TRAVESSIA = R$ 649,37 (SEM PASSAGENS AÉREAS)
GASTO TOTAL POR PESSOA = R$ 1.329,37.
Vale lembrar!
Comprar passagens com antecedência para garantir bom preço.
Melhor época do ano para fazer a travessia entre maio e agosto.
Tente conciliar o horário do voo com o horário do ônibus para Barreirinhas, a viagem dura 4 horas, dependendo do horário que chegar vai ser preciso pernoitar em Barreirinhas.
Negocie direto com os barqueiros a ida até Atins ou se for fazer o passeio do Rio Preguiças.
Leve dinheiro físico e trocado.
Use camisetas de manga longa e calça.
Calçados: eu usei papete e meia, recomendo o modelo Base Camp da The North Face.
Ósculos de sol são itens obrigatórios, e assim como na neve são itens de segurança porque a areia é muito branca e reflete o brilho do sol, sega completamente.
Chapéu e bandana para proteger o pescoço do sol.
Levem mais de um GPS se for fazer sem guia, estude a navegação pois não existe trilha ou placas indicando o caminho.
As dunas se movem, lagoas enchem e secam e por isso nem sempre vai ser possível seguir 100% a rota do GPS.
Recomendo dormir nos redarios, não é preciso levar barracas ou rede todos os abrigos fornecem rede e lençol.
Não tem rede de celular.
Em todos abrigos vende pratos feitos, mas recomendo que leve uma ou duas refeições.
Coloque seus equipamentos dentro de sacos estanques, durante o trajeto é preciso passar por lagoas com o nível da água acima de 1,50m.
Recomendo ir de forma bem minimalista, opte por equipamentos leves e compactos.
Se tiver intenção de ficar em Santo Amaro, pesquise pousadas antecipadamente, dependendo da época que for pode não encontrar disponibilidade.
O que levei
O peso da sua mochila vai influenciar bastante no seu desempenho para essa travessia, eu levei algumas coisas que acabei não usando como rede e corda para amarrar e comida.
Fiz o check-list de tudo que usei nessa travessia;
- 1 mochila semi – cargueira – Osprey – modelo: Exos 48 peso: peso 1,48kg
- 2 camisetas manga curta Drifit
- 2 camisetas manga longa – Salomon tecido de poliamida.
- 1 shorts
- 1 calça-bermuda de trekking
- 1 chapéu
- 1 boné
- 1 bandana – modelo: Ecohead
- 1 óculos
- 3 Pares de meia
- 4 cuecas
- 1 sandália – The North Face – modelo: Base Campe Switchback
- 1 bota – Salomon (não usei durante a travessia)
- 1 par de bastões de caminhada – Naturehike – modelo: Trail Lite
- 1 toalha
- 1 liner – Sea to Summit
- 1 fogareiro e kit talheres – Jetboil – modelo: Flash
- 1 Kit de primeiros socorros
- 1 Kit de emergência
- 1 Kit de higiene pessoal
- 1 GPS – Garmin – modelo: Etrex 30x
- 5 pares de pilha – Duracell – AA
- 1 headlamp – Petzel – modelo: MYO
- 1 canivete
- 1 mini pá
- 1 reservatório – Osprey – modelo: Hydraulics 3L
- 1 squeeze
- 1 purificador de água – Hidrosteril
- 1 carregador solar – Anker – 21w
- 1 power bank – Pineng – 20000mah
- 1 câmera de ação – Sony modelo: Action Can
- 1 câmera – Canon – modelo: DSLR
- 1 extensão – 1 m
- 1 adaptador com três tomadas
ATENÇÃO
Sempre planeje suas atividades com antecedência, estude a região, grau de dificuldade, distância e o clima. Use roupas e calçados adequados e leve somente o necessário para não carregar um peso exaustivo. Tenha sempre água e comida. Evite fazer trilha sozinho, e se você não tiver experiência, procure estar acompanhado de pessoas experientes ou guias credenciados. Sempre tenha um saco de lixo na mochila, traga com você todo lixo produzido e se possível, recolha outros que encontrar durante o percurso.