O Parque Nacional do Itatiaia está localizado na Serra da Mantiqueira, abrangendo áreas dos estados do Rio de Janeiro, Minas Gerais e São Paulo. Fundado em junho de 1937, foi o primeiro parque nacional criado no Brasil, e até hoje é um dos destinos mais incríveis para quem busca contato com a natureza, trilhas desafiadoras e paisagens de tirar o fôlego.
Parte Alta e Parte Baixa do Parque do Itatiaia
Dentro do parque é possível explorar tanto a parte alta quanto a parte baixa.
Na parte alta, encontram-se os principais picos, como:
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Pico das Agulhas Negras (2.792m) – o 6º ponto mais alto do Brasil
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Morro do Couto (2.680m) – 9ª montanha mais alta do país
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Pedra do Altar
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Prateleiras
Na parte baixa, estão as travessias e cachoeiras, como:
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Complexo Maromba
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Travessia Ruy Braga
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Rancho Caído
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Serra Negra
Começo da Jornada: Rumo ao Pico das Agulhas Negras
O feriado de Corpus Christi foi o pretexto perfeito para partir em direção ao Parque do Itatiaia. A viagem foi decidida de última hora. Falei com meus amigos Marcelo Souza, Thiago Henrique e Danilo Nunes, que embarcaram na aventura sem pensar duas vezes.
Nosso objetivo era chegar ao cume do Pico das Agulhas Negras, o ponto mais emblemático do parque. Sem reservas, decidimos ir e tentar a sorte.
Saímos de São Paulo na sexta à noite e chegamos à cidade de Itamonte na madrugada. Como não tínhamos onde dormir, estacionamos o carro em uma estradinha e dormimos ali mesmo — uma noite nada confortável, diga-se de passagem.
Entrada no Parque Nacional do Itatiaia
Acordamos cedo e seguimos para a portaria. Já havia grupos de trilheiros no local. Ao entrar, é necessário preencher um formulário com a trilha pretendida e o número de integrantes. Como íamos escalar o Agulhas Negras, levamos equipamentos de escalada e rapel, incluindo cordas — item obrigatório para essa trilha. Após o pagamento da diária e verificação dos equipamentos, recebemos os braceletes de identificação e fomos liberados.
Trilha ao Pico das Agulhas Negras: Início e Desafios
Estacionamos o carro dentro do parque e improvisamos um café da manhã. Danilo tentou fazer um suporte de coador com um rolo de papel higiênico — não deu certo (óbvio!). Resolvi cortar uma garrafa PET, que virou um ótimo suporte improvisado.
De mochilas prontas, partimos rumo ao Abrigo Rebouças, onde começa a trilha. Ela é autoguiada, bem sinalizada e o trecho até o abrigo tem cerca de 3 km. Iniciamos a caminhada sob ventos fortes e neblina intensa.
No começo, o trajeto é tranquilo, sem subidas muito íngremes. Cruzamos uma ponte e passamos pela entrada da Pedra do Altar, seguindo em direção às Agulhas Negras. Após um riacho, o nível da trilha começou a subir.
Via Pontão: O Trecho Técnico e Desafiador
A trilha que seguimos é conhecida como Via Pontão, que exige técnica e equipamentos adequados. A partir deste ponto, a subida fica íngreme, com trechos escorregadios e trechos de escalaminhada (mistura de trilha e escalada).
Após atravessar alguns charcos, encontramos uma grande laje inclinada. Dali, avistamos o Pico das Prateleiras. Subindo mais um pouco, encontramos um grupo com cerca de 20 pessoas aguardando para subir com o uso de corda.
Danilo e eu passamos à frente, escalamos a rocha e montamos uma segunda ancoragem para ajudar o grupo a seguir. Seguimos juntos boa parte do caminho e enfrentamos uma escalaminhada que vai agradar qualquer amante de montanhismo.
Cume Cruzeiro e o Livro de Cume das Agulhas Negras
Mais pra frente, demos de cara com o Guto — guia gente finíssima que conheci na travessia Marins x Itaguaré. Enquanto rolava uma espera pra liberação da passagem (por causa do fluxo de outros grupos) aproveitamos para fazer algumas fotos.
Logo depois, alcançamos o Cume Cruzeiro, um dos pontos mais emblemáticos das Agulhas Negras. Mas a missão ainda não estava completa. O objetivo final ainda estava lá, nos esperando: o famoso livro de cume, guardado no ponto conhecido como Açu ou Chaminé do Estudante.
Montando a Tirolesa e Assinando o Livro de Cume
Pra chegar no livro de cume, não era só subir e pronto. Tinha que descer de rapel até a garganta e depois escalar de novo ou seja, emoção garantida. A gente olhou praquilo e pensou: “bora fazer diferente?” Decidimos montar uma via de tirolesa. Danilo desceu com a corda, ancorou no Açu com segurança, e rapidinho montamos o sistema. A travessia rolou suave, com aquele friozinho na barriga que faz tudo valer a pena.
Do outro lado, assinamos o livro com aquele sentimento de missão cumprida. Nem todo mundo que chega no pico consegue completar essa parte, então a conquista teve um gostinho especial. Depois disso, foi hora de respirar fundo, recolher o equipamento e começar o retorno com o coração leve e a cabeça cheia de história boa pra contar.
Emergência na Montanha: A “Lesão no Rim”
Logo depois de assinar o livro de cume, comecei a sentir uma dor forte na região do abdômen, junto com um enjoo daqueles. A adrenalina virou alerta. Cruzamos de volta pela tirolesa, desmontamos tudo e começamos a descer o mais rápido que dava. A dor só aumentava.
Chegando no Abrigo Rebouças, os monitores do parque foram incríveis, super solícitos, nos ajudaram sem pestanejar e me levaram até o carro. De lá, seguimos direto pro hospital de Itamonte. Mesmo com uma estrutura simples, o atendimento foi rápido e acolhedor. Tomei medicação, fiquei em observação e entrei em modo repouso.
Com os sintomas mais controlados, voltamos pro parque. Mas à noite o bicho pegou: a dor voltou ainda mais forte e no dia seguinte eu já mal conseguia respirar. Partimos correndo pra São Paulo, onde fui internado. A princípio, acharam que era uma lesão renal, provavelmente pelo esforço ou desidratação. Mas o verdadeiro diagnóstico veio depois: um infarto no baço, causado pela anemia falciforme — que eu nem sabia que podia se manifestar desse jeito.
Atualização 2025: Depois de muita investigação fui diagnosticado com Traço Falciforme.
Traço Falciforme – e agora, dá pra continuar na trilha?
Pois é, recentemente descobri que tenho traço falciforme. Não chega a ser uma doença, é uma condição genética que geralmente nem dá sinal de vida. A boa notícia? Não muda quase nada na rotina. Mas como eu tô sempre no mato, metido em trilha, quase sempre levando o corpo no limite, vale a pena dar atenção para alguns pontos: hidratação, esforço físico pesado e altitude agora pedem atenção redobrada.
Na real, não é nenhum drama. Não virou um “não pode mais”, virou um “cuida melhor”. Se antes eu já tinha um cuidado com planejamento, agora fiquei ainda mais cuidadoso. A trilha segue firme, só que com mais consciência, mais leveza.
Considerações Finais: Eu Vou Ter Que Voltar…
Agora terei que voltar, pois no Pico das Agulhas Negras existem quatro livros de cume, e nós assinamos apenas um. Fazer esse “sacrifício” vai ser difícil… sqn! rs.
Assista o vídeo da ascensão do Pico das Agulhas Negras
Por: Thiago Henrique
Presentes na trilha: Carlos Junior, Thiago Henrique, Danilo Nunes e Marcelo Sousa.
Dicas úteis para Quem Quer Subir o Pico das Agulhas Negras
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Leve equipamento adequado: cordas, capacetes e calçados apropriados
- A caminhada deve ser encerrada até as 17h00, mesmo para quem for pernoitar no parque.
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Faça reserva com antecedência no site do Parque Nacional do Itatiaia
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Evite feriados prolongados se quiser menos espera
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Use roupas impermeáveis e corta-vento — o clima muda rápido
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Leve água e comida leve — hidratação é essencial!
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Respeite seus limites — é uma trilha técnica e exigente
Informações gerais
Trilha: Pico das Agulhas Negras
Formato: Hiking
Grau de dificuldade: Médio/Difícil
Tempo médio: 8 (horas ida e volta)
Grau de declínio: Alto
Percurso: 10 km
Localização: Parte alta do Parque Nacional do Itatiaia – RJ
Ingressos: Compre por aqui (informações atualizadas 2025)
Ingresso Público em Geral R$44,00
Ingresso meia entrada R$22,00
Hospedagem Abrigo Rebouças R$60,00 por pessoa/dia
Hospedagem Camping Rebouças R$ 60,00*por pessoa/dia
Obs, Os pagamentos deve ser feito em dinheiro, o parque não aceita cartões!
Transporte
Carro: Saindo do Rio de Janeiro ou São Paulo, o visitante deve seguir pela Rodovia Presidente Dutra (BR 116) até o povoado de Engenheiro Passos, 12 Km depois de Itatiaia. E seguir pela BR 354, na estrada Rio-Caxambú (Circuito da Águas) por 23 Km, até o local conhecido como Garganta do Registro, a 1.669 metros de altitude. A partir daí começa a subida de 14 km até o Posto Marcão (antigo Posto 3) e mais 3 km até o Abrigo Rebouças.
Calcule os gastos de combustível e pedágios através do site Mapeia.
Estacionamento: É gratuito e fica dentro do Parque Nacional do Itatiaia – RJ
Mais informações sobre o Parque Nacional do Itatiaia
ATENÇÃO
Sempre planeje suas atividades com antecedência, estude a região, grau de dificuldade, distância e o clima. Use roupas e calçados adequados e leve somente o necessário para não carregar um peso exaustivo. Tenha sempre água e comida. Evite fazer trilha sozinho, e se você não tiver experiência, procure estar acompanhado de pessoas experientes ou guias credenciados. Sempre tenha um saco de lixo na mochila, traga com você todo lixo produzido e se possível, recolha outros que encontrar durante o percurso.