Acredito que a grande maioria já leu ou escutou algo a sobre a Travessia da Serra Fina, situada na divisa tríplice dos estados de Minas Gerais, Rio de Janeiro e São Paulo, ao longo da Serra da Mantiqueira. É considerada uma das travessias de montanha mais difíceis do Brasil. O percurso inicia-se no bairro Toca do Lobo, na cidade de Passa Quatro. Passa pelos picos do Capim Amarelo (2.491 m de altitude), Pedra da Mina – que é a 5º montanha mais alta do Brasil com 2.798 m de altitude, também foi considerada pela National Geografic como um dos 100 lugares mais inóspitos do planeta, e por fim o Pico dos três estados (2.656 m de altitude).
Atualização 2025: Acesso Controlado e Mudanças no Trajeto
Desde julho de 2020, depois de um incêndio criminoso que causou bastante prejuízo à vegetação da região, o acesso à Travessia da Serra Fina passou a ser controlado. Em 2022, a travessia foi reaberta com novas regras, incluindo a obrigatoriedade de cadastro prévio e um limite diário de pessoas, também agora é obrigatório equipamentos básicos de trekking principalmente o shit tube. Tudo isso foi pensado pra ajudar na preservação da área e pra que a galera continue curtindo essa travessia incrível com segurança.
Outro ponto importante: o famoso Vale do Ruah agora está com o acesso interditado por motivos ambientais. No lugar, foi criado um desvio oficial, que contorna a área e ainda dá acesso ao ponto de água. Então nada de tentar forçar passagem por lá, hein? Seguir o trajeto oficial é parte do respeito que a gente deve ter pela montanha.
Se estiver planejando sua ida, dá uma conferida nos canais oficiais da unidade de conservação pra garantir que tá tudo certo com a sua programação. O link para reservas e informações esta disponível na parte de Informações Gerais.
Travessia da Serra Fina: O Desafio Épico da Mantiqueira
Em dezembro de 2013, comecei a planejar a travessia da Serra Fina para temporada seguinte. Vi que a melhor data seria no mês de Junho, durante o feriado de Corpos Christi. Decidi começar o percurso um dia antes do feriado para não pegar os locais de camping muito cheios (em feriados prolongados o fluxo de aventureiros é grande na região). Para encarar o desafio, convidei alguns amigos e nosso grupo acabou ficando bem grande, totalizando 10 pessoas.
No dia 17/06/2014, nos reunimos horas antes, arrumamos algumas coisas na mochila e partimos para Rodoviária do Tietê. Nosso ônibus com destino a Passa Quatro, Minas Gerais, sairia às 23h30. Como chegamos com antecedência na rodoviária aproveitamos para fazer um lanche antes de embarcar.
1ª dia – 18/06/2014 – Toca do Lobo – Capim Amarelo – Acampamento Avançado
Chegamos na rodoviária de Passa Quatro por volta das 03h30. Um dos meus amigos, Falcon Pileggi, deu falta da sua mochila de ataque e se deu conta de que havia esquecido no ônibus. Por sorte, o Edinho que faria nosso resgate já estava lá nos esperando com sua Toyota. Foram os dois atrás do ônibus, enquanto ficamos ali rindo e torcendo para que eles o conseguissem alcançar.
Um tempo depois eles retornaram com a mochila, conseguiram interceptar o ônibus já na saída de Passa Quatro. Agora imaginem só, o que passou na cabeça do motorista ao ver dois caras em uma Toyota buzinando e gritando: “para, para”.
Depois do resgate da mochila, subimos na carroceria da Toyota, o que também foi bem divertido. A Toyota era meio que um “pau de arara” e riamos muito da situação. Seguimos para a Toca do Lobo onde iniciaríamos a travessia da Serra Fina. Chegando lá aproveitamos para fazer um café da manhã antes de começarmos a caminhada.
O primeiro ponto de água é bem na Toca do Lobo, mas não pegamos ali, pois preferimos subir mais leves, deixando para pegar mais acima. Começamos a caminhada por volta das 08h30, cruzamos o riacho que fica bem em frente a Toca do Lobo e de cara já tem uma subida bem íngreme. Dalí pra frente era só subida.
Andamos em torno de 1,7 km, antes de encontrar o segundo ponto de água. Ele fica a direita de quem esta subindo, você vai precisar sair da trilha para chegar até a água, é um pouco complicado descer até o local da bica, pode ser que não a ache. No GPS tem o ponto marcado, mas se você não tiver um, aconselho pegar água na Toca do Lobo. Leve pelo menos 4 litros para beber e cozinhar.
Logo você vai alcançar a crista da montanha, um dos locais mais bonitos da travessia. Fotos são indispensáveis nesse trecho da Serra Fina.
Depois de 06h30 de caminhada, chegamos ao cume do Capim Amarelo com 2496 m de altitude. Decidimos que não acamparíamos no cume, queríamos acampar o mais próximo possível da Pedra da Mina, então continuamos a caminhada. A ideia era acampar no Maracanãzinho, mas como o grupo estava cansado, acabamos acampando em um local conhecido como Avançado, que é um lugar muito bom para montar as barracas, fica bem protegido dos ventos e tem uma vista espetacular.
Fiquem alerta na saída do Capim Amarelo, logo no final existe uma bifurcação que te induz ao erro, fique atento e mantenha-se a direita, por ser uma trilha bem marcada é muito fácil de confundir.
2ª dia – 19/06/2014 – Acampamento Avançado – Pedra da Mina
Algumas pessoas dizem que o segundo dia é mais difícil que o primeiro, eu particularmente não achei tão mais difícil. Acredito que por não ter descansado da viagem de ônibus, isso acabou influenciando o primeiro dia, o deixando bem mais pesado. Mas na Serra Fina é assim, não existe dia fácil, a travessia toda é bem puxada.
Começamos a caminhada por volta das 09h30. Partimos com destino a Pedra da Mina, onde encontraríamos o quarto ponto de água, o terceiro fica no Maracanãzinho, porém passamos direto devido ao horário.
Chegamos até a um rio que fica na base da Pedra da Mina, onde paramos para almoçar e descansar um pouco antes de enfrentar sua íngreme subida. A Pedra da Mina é famosa por ser a 4ª montanha mais alta do Brasil.
Alimentados e descansados, agora só nos restava atacar a montanha até o cume da Pedra da Mina. Por volta das 16h dois dos nossos amigos, Raphael Yamamoto e o Harrison, decidiram atacar outro pico bem próximo, o Pico do Tartarugão, e nós continuamos a caminhada até o cume da Pedra da Mina. A subida é bem íngreme, e em alguns momentos se torna extremamente escorregadia. Conseguimos chegar ao cume a tempo de assistir o por do sol, o que fez valer cada gota de suor.
No cume, os locais de camping estavam meio limitados, parte do grupo decidiu montar as barracas por ali mesmo e a outra parte em ponto mais abaixo. Havia uma clareira que o Daniel encontrou, lá só couberam duas barracas, a minha e a dos meu amigos colombianos (Kristy, Harrison e Daniel). Até gostei do lugar, estava bem confortável e plano, por ser um solo arenoso era bem macio.
Começamos a preparar nosso jantar e a temperatura caia com o termômetro marcando -1°, o jeito foi preparar o jantar no recuo da barraca e mesmo assim, estava bem frio! Estava tão frio que para conversarmos tivemos que gritar de uma barraca para outra.
A noite foi chegando e nada do Rafael e do Harrison voltarem. Quando finalmente apareceram, tivemos uma notícia nada agradável. O Harrison acabou sofrendo uma queda e deslocou o ombro, porém conseguiram colocar o ombro novamente no lugar. Graças a Deus não foi algo mais grave, agora que estavam todos a salvos e seguros fomos dormir.
3ª dia – 20/07 – 2014 – Pedra da Mina – Vale do Ruah e Base dos Três Estados
Acordamos bem cedinho para ver o nascer do sol, quero dizer nem todos eu preferi dormir mais um pouco, mas a Gisely levantou e tirou algumas fotos. Tomamos café da manhã, assinamos o livro de cume, e Harrison ainda sentia dor no ombro deslocado. Devido a circunstâncias que nos encontrávamos cogitamos abortar pelo Paiolinho, mas o Harrison insistia em terminar a travessia mesmo com o ombro dolorido e depois de muita conversa com o grupo decidimos continuar, e então seguimos para o Vale do Ruah.
Deixando a Pedra da Mina para traz, a descida é bem rápida, logo a frente já se avista o Vale do Ruah, um lugar diferente de tudo que já vi. O mato alto forma um grande labirinto, nesse trecho devido a vegetação ser alta é bem fácil se perder, existem alguns obstáculos como charcos e tufos na trilha, preste atenção no caminho para não tropeçar ou molhar as botas.
ATENÇÃO: Atualmente (2025), por questões ambientais, não é mais permitido atravessar o Vale do Ruah. Foi criado um desvio alternativo que dá acesso ao ponto de água antes de seguir. Informações atulizadas no final do artigo.
No vale do Ruah encontrará o quinto ponto de água, aproveite para encher os cantis, depois daí só vai encontrar água no final da travessia, levamos 4 litros cada um. Para frente você enfrenta um sobe e desce e algumas escalaminhadas, que não é novidade tratando-se da Serra Fina. Passará por bambus, mato alto até alcançar o Cupim do Boi.
Decidimos acampar na base do Pico dos Três Estados por ser feriado era bem provável não ter muito espaço para armar as barracas no cume, e foi uma ótima ideia. O local onde acampamos era bem protegido dos ventos, que nos permitiu pela primeira vez ficar fora da barraca conversando e falando besteiras até um pouco mais tarde.
4ª dia 21/07/2014 Base Pico dos Três Estados – Cucuruto – Alto dos Ivos
O quarto e último dia da Travessia da Serra Fina, acordamos bem cedo e agilizamos para começar a caminhada até o Pico dos Três Estados, saímos às 07h40. Essa seria a maior distância que teríamos que viajar. A caminhada não foi tão fácil, tivemos que encarar uma subida bem íngreme. Alcançamos o cume por volta das 13h30 e fizemos uma parada rápida para fotos no marco dos Três Estados.
Continuamos a caminhada dessa vez descendo, mas como alegria de pobre dura pouco, logo nos deparamos com uma escalaminhada até o Pico do Cocuruto, que mais uma vez te faz descer para subir o Alto dos Ivos, que é o último pico da travessia. Com o ritmo acelerado chegamos ao cume do Alto dos Ivos às 11h30, aproveitamos para almoçar, descansamos alguns minutos e continuamos a caminhada de descida até o ponto do nosso resgate, que foi bem suave, quase não se percebe que esta descendo.
Passamos por dois sítios, o primeiro conhecido como Sítio do Engenho e o segundo Sítio do Pierre, seguimos alguns quilômetros à frente e alcançamos a rodovia. Chegamos ao ponto de resgate às 16h, onde a van de resgate nos aguardava para nos levar de volta a Passa Quatro.
Chegando a rodoviária, descobrimos que só haveria ônibus para São Paulo a 01h00 e como todos estavam molambentos, sujos, cansados e com fome, não aguentaríamos esperar. A saída foi pegar um ônibus até a cidade de Cruzeiro e de lá seguir para São Paulo. A viagem até Cruzeiro foi bem curta, durando apenas 40 minutos. Chegando a Cruzeiro, conseguimos passagem para o ultimo ônibus para São Paulo às 20h00.
Como chegamos um pouco adiantados para o embarque aproveitamos para comer alguma coisa. Na rodoviária tinha uma lanchonete onde acabamos com o estoque de pães e frios do estabelecimento, realmente todos nós estávamos com muita fome de comida gordurosa.
Chegamos à São Paulo em torno de 24h00. Mau nos despedimos e tivemos que correr para pegar o metrô antes que fechasse. Mas no fim deu tudo certo, todos pegaram o metrô a tempo. E assim, termina nossa aventura na Travessia da Serra Fina.
Assista o vídeo da Travessia da Serra Fina
Por: Thiago Henrique
Presentes na travessia: Carlos Junior, Gisely Bohrer, Thiago Henrique, Daniel Ricardo, Kristy Godoy, Falco, Raphael Yamamoto (Cocô no Mato) , Bruna Castro Alves, Leandro Marin, Harrison Garcia.
Vale lembrar!
- Atualização sobre uso obrigatório de equipamentos clique aqui para conferir
- O uso do shit-tube é obrigatório.
- Ir com calças e camisetas de manga longa, a vegetação machuca bastante.
- Fique atentos as pontos de água, 4 litros por dia é mais que o suficiente.
- Se prepare fisicamente e estude a travessia, a principal dificuldade esta no planejamento.
- Evitem de fazer a travessia se a previsão não estiver boa. Se forem pegos de surpresa a saída de emergência é pelo Paiolinho, que o acesso é através da Pedra da Mina.
- Esteja com equipamentos corretos para montanha, lá em cima a temperatura chega a ficar abaixo de -0°C. Recomendo usar um saco de dormir com temperatura conforto -7°C.
Informações gerais
Trilha: Travessia da Serra Fina
Formato: Trekking / Travessia
Grau de dificuldade: Difícil
Tempo médio: Quatro dias com saída 18/06/2014 e retorno 21/06/2014
Grau de declínio: Alto
Percurso: 33,64 km
Atualização (temporada 2025)
Agendamentos e reservas: Atualmente a gestão da Serra Fina é feita pela empresa Ruah Ecoturismo.
Tracklog: Esse tracklog foi feito pelo Rodrigo do blog Exploradores, esta 100% confiável: Travessia da Serra Fina
Localização: Serra da Mantiqueira na cidade de Passa Quatro – MG
Transporte:
Ônibus:
Ônibus São Paulo x Passa Quatro – Viação Cometa
Ônibus Passa quatro x São Paulo – Viação Cometa
Outra opção caso não encontre ônibus em Passa Quatro:
Ônibus Passa Quatro x Cruzeiro – (de Cruzeiro sai ônibus com mais frequência) – Pegar Ônibus dentro da Rodoviária
Ônibus Cruzeiro x São Paulo – Viação Pássaro Marrom
Carro:
Saindo de São Paulo, pegar Rod, Airton Sena, depois Carvalho Pinto e Via Dutra. Em seguida, pegar a saída para Minas: KM 46 – Canas e KM 39 – Cachoeira Paulista / Cruzeiro.
Calcule os gastos com combustível e pedágios pelo site Mapeia .
Estacionamento e Resgate: Edinho da Toyota ele também leva até a Toca do Lobo e faz o resgate no final da travessia.
Tel: (35) 99963-4108 VIVO ⁄ (35) 9109-2022 -TIM ou (35) 3371-1660 FIXO
Indicação de Guia: O guia Willian Peres é um dos guias locais especialista na Serra Fina e outras trilhas da Mantiqueira.
ATENÇÃO
Sempre planeje suas atividades com antecedência, estude a região, grau de dificuldade, distância e o clima. Use roupas e calçados adequados e leve somente o necessário para não carregar um peso exaustivo. Tenha sempre água e comida. Evite fazer trilha sozinho, e se você não tiver experiência, procure estar acompanhado de pessoas experientes ou guias credenciados. Sempre tenha um saco de lixo na mochila, traga com você todo lixo produzido e se possível, recolha outros que encontrar durante o percurso.
3 comentários
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